"Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas, mas nenhuma delas é cubana." FIDEL CASTRO

quarta-feira, 29 de abril de 2009

SUPREMO MINISTRO JOAQUIM BARBOSA

Jorge Portugal
Transcrito da página de Opinião do jornal A Tarde, da Bahia, de 28.4.09


Naquele 22 de abril de 2009, nenhum nobre navegante português ousaria nos "descobrir". Descobertos fomos pelos olhos e pela voz do primeiro negro que, com altivez e coragem, no topo da nau capitânia do judiciário, admoestou o pretenso comandante.

Naquele 22 de abril de 2009, não caberia um 7 de setembro em que o filho do rei, futuro imperador do país, daria gritos de independência às margens de um riacho qualquer; ali, ouvimos o brado da liberdade e da insubmissão da voz abafada do povo, silenciada por séculos pelos donos do poder, através de sucessivos crimes de lesa-cidadania: "Respeite, ministro! Vossa Excelência não tem condições de dar lição de moral em ninguém!"

Naquele 22 de abril de 2009, nenhuma princesa "bondosa" assinaria uma vaga lei que nos concedia liberdade, mas nos cassava a condição de cidadãos, proibindo-nos o voto, a escola de qualidade e o trabalho digno; presenciamos, sim, a abolição proclamada em nossas almas, 121 anos depois, pela voz corajosa de um Luís Gama redivivo, encarnando todos os quilombos massacrados e abrindo os portões de todas as senzalas: "Vossa Excelência não está nas ruas; está na mídia destruindo a credibilidade de nossa justiça!"

Naquele 22 de abril de 2009, nenhum marechal, de pijama, ousaria proclamar república nenhuma; o pacto de poder que condenou a maioria de nossa gente a ser um povo de segunda classe viu-se desmascarado pela indignação patriótica de um João Cândido reeditado, que fez a chibata girar em movimento contrário, açoitando o lombo dos que se acostumaram a bater, por séculos a fio: "Respeite, ministro! Vossa Excelência não está falando com seus capangas do Mato Grosso!"

Naquele dia, Ogum, Xangô e Oxóssi, desceram os três num corpo só e reafirmaram a presença arquétipica da África dentro de nós. Todos os movimentos aparentemente derrotados dos nossos heróis anônimos puseram-se de pé, vitoriosos, mesmo que não tivessem vencido uma só batalha. A Revolta dos Búzios, a Revolução dos Malês, o Quilombo dos Palmares, todos, reencenaram seus teatros de operação e puderam, séculos depois, derrotar simbolicamente o inimigo.

Naquele dia, saíram às ruas todas as escolas de samba, de jongo, todos os blocos afros; bateram os candomblés e as giras de umbanda, a procissão da Boa Morte, o Bembé do Mercado de Santo Amaro; brilharam os pequenos olhos da criança negra recém-nascida ao descortinar a luz azul de um futuro melhor.

Naquele dia, materializando todos os nossos sonhos e desejos secularmente negados, Vossa Excelência deixou de ser apenas um ministro do Supremo Tribunal Federal para tornar-se o supremo ministro de todos os brasileiros.

domingo, 26 de abril de 2009

AS VINHETAS DO PPS

O dogmatismo do PPS, e em especial do Roberto Freire é grotesco.
Ele abusa da linha de alguns políticos do passado de levantar uma tese na tentativa de que ela seja aceita as cegas e sem nenhuma crítica.

Aliás, o dogmatismo pregado por Roberto Freire é característico de todos os sistemas teóricos que defendem o caduco, o velho, o reacionário e combatem o novo e o progressista.

O exemplo de decência que o PPS e Roberto Freire estão usando, lembra o velho estilo da propaganda nazista de repetir uma mentira várias vezes, mas eles não passam no “teste da goma”.

Mas nem tudo que é velho tem que ser necessariamente caduco e reacionário, e para os decentes do PPS eu deixo dois adágios das antigas:

1º - “Diga-me com quem andas que te direi quem tú és”.

2º - “Quem com porcos se mistura farelo come”.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O CIRCO DA PILANTRAGEM

Laerte Braga


Kalanag foi um mágico que se apresentou no Brasil lá pelos idos de 1960. Como, ninguém nunca soube, mas descia do palco até a platéia com uma jarra d’água e mandava o espectador escolher a bebida preferida. Vinho, uísque, cerveja, da tal jarra saia tudo. Se levarmos em conta que os mágicos àquela época dispunham de poucos recursos tecnológicos, aquele negócio de jogos de luzes, máquinas que engolem pessoas, esses aparatos todos dos mágicos de hoje, Kalanag era de fato um prodígio.

Circos ainda ocupam um espaço importante tanto na lembrança dos que assistiram aos velhos grandes circos do passado, como os que hoje têm o privilégio de observar uma arte – falo de tudo o que o circo traz -. Aquela armação de lona sobrevive em muitas cidades do interior do País. Hoje, uma nova roupagem recheada de salamaleques dos tempos atuais, levou o circo para dentro dos ginásios, das grandes áreas de espetáculos e numa certa forma preservou e preserva as características do espetáculo circense.

Águas dançantes apareceram no Rio de Janeiro no final da década de 50 e o show aconteceu no Maracanãzinho como ponto culminante de um dos grandes circos norte-americanos em seguida a trapezistas, palhaços, mágicos, equilibristas, toda a troupe.

Foi uma semana antes da célebre luta entre Archie Moore e o brasileiro Luisão, mas essa é outra história.

A descaracterização da palavra circo, transformada, entre outros sinônimos, em local de pilantragem, de maracutaia aconteceu por conta de se emprestar à pilantragem e às maracutaias o epíteto de um grande circo, com mágicas com dinheiro público, trapaças nos negócios de governo, grandes palhaçadas de políticos, toda essa sorte de ilusionismo do chamado mundo real.

Num tem o palhaço, esse o de verdade, sério, que bate a carteira do parceiro e fica olhando para o alto como se não fosse com ele enquanto o parceiro, desesperado percebe que ficou liso, sem carteira? É por aí, o político tipo Temer, Sarney, bate a carteira do distinto cidadão/ã e fica falando em moralidade, se bobear ainda vai buscar ajudar a achar o culpado, quase sempre o MST.

Os palhaços não têm culpa disso. Eram agentes de diversão da garotada e até de adultos. Nem os mágicos que no máximo serravam uma bela mulher e depois a reconstruíam sem um único dano, sem uma única cicatriz.

O circo de Brasília, por exemplo, não tem nada a ver com o Circo de Moscou. E nem com as lonas remendadas que povoam as cidades do interior brasileiro. Ali, nessas cidades, crianças e adultos ainda são capazes de gargalhadas quando o palhaço tropeça e daquelas interjeições de espanto quando o mágico faz sumir um carro em pleno palco substituindo-o ou por um elenco de mulheres, ou por pássaros coloridos que saem voando dentro dos limites da lona.

E haja pipoca. Muitos conservam a orquestra – bem menor hoje dado aos custos – indispensável ao toque de atenção, de suspense, no prenúncio do salto mortal.

O circo de Brasília tem a batuta de três dos mais espertos “mágicos” da política brasileira. O presidente do Senado, José Sarney. O presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer e o presidente do Supremo Tribunal Federal – atual STF DANTAS INCORPORATION LTD – o ministro Gilmar Mendes.

Sarney, proprietário dos estados/fazenda Maranhão e Amapá seja talvez o mais completo exemplo de Zelig da história da política brasileira. Em 1º de abril de 1964, governador do Maranhão, soltou um manifesto na parte da manhã apoiando o governo constitucional de João Goulart e outro à tarde, aderindo ao golpe militar. Virou capacho de confiança dos governos da ditadura. Acabou presidente da República no episódio da construção da candidatura Tancredo Neves e da morte do mineiro, eleito presidente em 1984.

Estendeu seus domínios ao Amapá onde foi eleito senador. Controla com mão de ferro o Maranhão e lembra aqueles ditadores da América Central que imaginavam se perpetuar colocando seus nomes em avenidas, ou de seus pais, seus filhos, seus tios, seus sobrinhos, suas amantes, toda a família no espírito do padre Patrick Payton, o tal da “Marcha com Deus pela Liberdade”. O dinheiro do padre Payton vinha da CIA, o de Sarney vem do bolso do cidadão/ã brasileiro. No Maranhão tudo é Sarney.

Michel Temer saiu da casca de jurista e constitucionalista para virar político, deputado em vários mandatos e uma interpretação para cada caso, não importa que seja diversa da anterior, desde que os interesses dos que representa sejam mantidos.

É ponta de lança de FHC e José Serra no PMDB. O maior partido do País, curiosamente sem cara, sem rosto, um amontoado de queromeu, onde ainda pontificam figuras sérias do porte de Roberto Requião governador do Paraná.

Sarney controla boa parte dos tribunais superiores, muitos dos ministros foram indicados por ele próprio quando presidente da República. Descobriu agora, depois de vários mandatos de senador, que a chamada Câmara Alta – de “altos negócios – tem um número exorbitante de diretores, paga assessores que não trabalham e nem moram em Brasília – caso da filha de FHC – e aquinhoa a todos com horas extras nos estranhos desvãos dos grandes “negócios”, ou grandes “mágicas” do Circo Brasília.

Temer está atolado até a alma nos esquemas de uso indevido de passagens por deputados. É interessante explicar esse negócio de cota de passagens. Cada deputado tem direito a um determinado número de passagens aéreas por mês e num dado tempo, uma passagem para a cidade do Rio de Janeiro. Essas passagens têm como escopo permitir que os ilustres parlamentares tenham transporte para suas bases eleitorais, seus estados de origem e lá possam auscultar o cidadão/ã eleitor.


Isso é mais ou menos como o cara que pula do centésimo andar. Até o qüinquagésimo tudo bem, só um ventinho extra e aquela sensação de velocidade maior, um frio na barriga. Ou seja, até aí, nada demais.

Essas passagens, no entanto, e a passagem para o Rio (com a transferência da capital para Brasília, o espírito da coisa era manter por determinado período as passagens para a antiga capital – Rio -, até que os deputados se ajustassem a Brasília, ou seja, uma cota a ser extinta depois de determinado tempo. Não foi não sofrem nenhum tipo de controle. O deputado pode usá-las a seu bel prazer já que não são nominais ao deputado.

Vai daí que o paladino da moral e dos bons costumes Michel Temer, que vai mandar investigar o uso indevido de passagens, admitiu, como admitiu Fernando Gabeira (misto de tucano com verde), que também cedeu passagens a familiares para viagens de passeio, de lazer.

Querer que o distinto cidadão cá embaixo, a distinta cidadã acredite que as passagens são entregues aos deputados sem limitação de uso, ou limitadas ao seu fim, repito, querer que se acredite que é para facilitar e desburocratizar, é imaginar que o cidadão seja como de fato afirma William Bonner – outro paladino da mentira – idiota perfeito, pronto e acabado e vá imaginar que o carro que estava no centro do palco sumiu de verdade. Não existe mais. Pelo menos até constatar que no próximo espetáculo, na sessão seguinte lá vai estar pronto para sumir outra vez.

As passagens são repassadas a deputados para que usem da forma que bem entenderem e não existe controle algum, porque deliberadamente querem que seja assim, permitindo que o uso dessas passagens, pagas com recursos públicos, cumpram uma função política e familiar.

O excesso de diretores no Senado não é algo que devesse espantar o presidente da Casa, José Sarney, pois quando senador no seu primeiro mandato, sua filha Roseana era assessora de seu gabinete, aliás, desde os tempos em que o pai era deputado e conhece bem a “mecânica” da coisa.

Soa mais ou menos como aquele princípio da lógica. Se azul é azul, azul não é verde. Então é azul. Se são capazes de montar um arcabouço que chamam de representação dos estados da Federação (Senado) e popular (Câmara dos Deputados) dessa maneira, é porque representam tudo menos os estados e muito menos ainda o popular.

São um estamento, parte fora do todo que forma a sociedade civil organizada, o mundo institucional e fazem desse mundo um mundo de privilégios que se estende para além das passagens.

Para interesses de grandes empresas que financiam senadores como Gérson Camata. Pilantra que vem ludibriando os capixabas faz tempo. De latifundiários, de banqueiros, de toda a casta que se convencionou chamar de elite política e econômica e tem sua raiz, sua base, no estado de São Paulo, no complexo FIESP/DASLU. Não é por outra que os índices de aproveitamento da educação básica em São Paulo não atingiram as metas mínimas. Claro. Não estão interessados nisso. O problema é manter o controle dos “negócios” e dar um jeito de enfiar o pilantra do José Serra na presidência da República.

Aí, como são os donos dos “negócios”, controlam a mídia podre, corrupta e venal como FOLHA DE SÃO PAULO, VEJA, GLOBO, ESTADO DE SÃO PAULO, etc. A culpa toda é da ministra Dilma Roussef que tem uma ficha policial dos tempos da resistência à ditadura militar.

A ditadura hoje é desses caras. Só mudou isso. Trabalho escravo tem às pencas no Brasil.

A REDE BANDEIRANTES – televisão – está incitando agricultores a desobedecer a lei que busca proteger os mananciais de água, pois essa lei contraria interesses de grandes grupos econômicos do latifúndio, banqueiros que financiam o latifúndio. E olha que a BANDEIRANTES é uma “redinha”. Se o trapezista cair se esborracha no chão. Mas quer a sua fatia, como quis também e levou à época da ditadura. Se Serra doou milhões para a EDITORA ABRIL, assinando revistas em troca de apoio, porque não dar um pouco para a BANDEIRANTES? São baratos, algo assim com uns três por cento do que pagam a GLOBO. E se chorar fica por menos

O terceiro nessa trindade de pilantras é Gilmar Mendes, presidente do STF DANTAS INCORPORATION LTD. Corrupto de carteirinha, tucano de coração, corpo e alma, ocupa a presidência do que deveria ser a corte suprema do País para transformá-la em instrumento de garantia de todo esse mundo podre e irreal que acaba sendo o real.

Temer, Gabeira, Camata, são como aqueles pistoleiros da máfia que quando erram são executados para não comprometer o todo, o chefe, o chefão, no caso os chefões. Um ou outro pode até sobreviver, caso de Temer. Se cismar de reagir e abrir a boca leva de roldão a lona do circo e promove uma grande confusão e nem é disso. Esperto demais para isso. Sabe que o bom cabrito não berra, vai fazer acordo no escurinho da lona, depois do horário das sessões do circo.

E como a Polícia Federal está trocando os comandos para que Dantas e seus iguais não sejam mais importunados, a turma está respirando mais aliviada.

O circo da pilantragem é no duro mesmo um circo de tragédias e essas tragédias se abatem sobre o povo brasileiro que segundo o imortal João Ubaldo Ribeiro ainda é o culpado de tudo.

Não são como aquelas tragédias que Vicente Celestino cantava em circos do passado.

“Tornei-me um ébrio/na bebida busco esquecer/aquela ingrata que um dia...

Era casado com Ester de Abreu uma das mais belas cantoras da música brasileira. E portuguesa de nascimento. Fiel até o ultimo momento.


Tem nada a ver com Michel Temer, Sarney, Gabeira, Gilmar Mendes, etc, etc.

Ah! Cesare Battisti continua preso. E os pistoleiro de Dantas andaram dando tiros em trabalhadores rurais sem terra no Pará.

Tudo em nome do progresso, da geração de empregos, do Brasil grande.

O deles. Os ingressos para os espetáculos desse circo estão demasiadamente caros é preciso buscar o circo de verdade.

Outra coisa. Esses caras têm mania de quando apertados achar um bode expiatório. O senador Gérson Camata, da bancada Álvaro Dias, sócio de Aécio Neves, quando apertado, diz que as FARCs e o MST estão armando guerrilha no interior de Minas e do Espírito Santo.

Vai ver os guerrilheiros e os sem terra estão viajando com passagens cedidas por deputados e senadores.

E William Bonner, síntese do pilantra na comunicação, está lá para assustar todos os “homer simpson” na hora dos JORNAL NACIONAL. O maior produto vendido pelos donos do Brasil aos incautos que ainda acham que esses circos são reais,. Não têm a ver com Arrelia ou Pimentinha, palhaços de muito caráter e seriedade.

A corrupção é só uma conseqüência do modelo político e econômico. Esse é o fato gerador. Esses são os donos do circo, os FIESP/DASLU. Aquele que o mágico Stak, o chefão da máfia, transforma assinaturas de camelôs paulistas em assinaturas de todos os trabalhadores brasileiros. Isso enquanto os fiscais não chegam para baixar a borduna.

terça-feira, 21 de abril de 2009

DUAS VERGONHAS BRASILEIRAS

1 –
A canalhada congressista brasileira perdeu a vergonha de vez na certeza da impunidade, ou eles tem certeza que a grande maioria do povo brasileiro pensa que o mundo se resume ao que a Globo mostra em sua programação.

Sob a alegação de que sempre usaram as “verbas indenizatórias” e as “cotas de passagens aéreas” para trabalhos inerentes da “atividade parlamentar”, sentem-se invadidos nas suas prerrogativas quando vem à tona os desvios de objetivo no uso de tais subsídios. Uns se dizem amparados em regimentos internos, outros acham que é necessários rever “alguns” critérios e os demais apostam na incorporação das regalias aos seus vencimentos!

Dos corregedores e dos conselhos de ética desses casas não podemos esperar nada!

O povo brasileiro só tem uma esperança: O TCU. Agora vamos ver se o Tribunal de Contas da União zela pelo bom uso do dinheiro do contribuinte, ou se ele é mais um subserviente órgão a serviço dos que legislam em causa própria.

Estamos assistindo a um dos mais vergonhosos tempos da vida política do congresso nacional.


2 –
Assistimos nos últimos dias o que a Folha de São Paulo e a TV Globo fizeram no uso do que chamam de Liberdade de Imprensa: A Distorção dos Fatos.

a) A Folha publicou uma ficha forjada da digna ministra Dilma Roussef, dando continuidade a campanha para desacreditar a futura presidente do Brasil.

b) A Globo alardeou que os “invasores” do MST utilizaram jornalistas como “escudos humanos” (parece até coisa de palestinos com crianças no Líbano e em Gaza), e que atacaram armados a sede da fazenda de Daniel Dantas no Pará. O engraçado é que as filmagens foram feitas de dentro da fazenda para fora, e em nenhum momento enxergamos outras armas além daquelas utilizadas pela “escolta armada” (jargão global para capanga), e não vemos outros baleados a não ser os integrantes do MST. Quem assistiu por exemplo aos telejornais da Record, teve a oportunidade de ver imagens do lado de fora da sede onde não se vê armas de fogo, somente foices, bandeiras, estrovengas e enxadas. E escutamos o testemunho de jornalista da Record que menciona o uso fogos de artifício!


Para quem só assiste a programação da Vênus Platinada, pensa que as personalidades brasileiras são aquelas que aparecem em programas como o BBB, Domingão do Faustão, Fantástico e Vídeo Show.

E também acreditam que os cordiais, despretensiosos e imparciais apresentadores do Bom Dia Brasil, que os papais de proveta do Jornal Nacional e que os dois do Jornal da Globo, é que nos mostram o Brasil e o mundo como ele é.

Vamos gritar de novo: O REI ESTÁ NÚ!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

CÚPULA E CÓPULA

Aproveitando o encontro da Cúpula das Américas, a Rede Globo e o PiG mostra a bela visão do mundo que eles defendem:

- Obama por liberalismo e solidariedade estende a mão para Cuba, permitindo que os cubanos da Flórida enviem dinheiro (além dos U$ 1,200.00 anuais até então permitidos), viajem quantas vezes quiserem para visitar parentes, enviem remédios, roupas e equipamentos de pesca, e permite também que as companhias estadunidenses instalem redes de TV, NET e INTERNET.

Mas a suspensão do embargo econômico, só quando Cuba respeitar os direitos humanos!

O que de fato aconteceu:

– Obama pressionado pela comunidade internacional, em especial a América Latina, afrouxa o insano embargo econômico a Cuba, e abre terreno às empresas para conseguir mais uma fonte de divisas para manter o “american way of live”, e tentar recriar o “rendez-vous” que a ilha era para eles na época de Fulgêncio Batista.

E com relação a respeitar os direitos humanos, esse PiG informa como se os americanos fossem o exemplo do mundo em respeito aos direitos dos outros humanos.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

COSTUME DE CASA VAI À PRAÇA!

O que o senador Cristovam Buarque quis sugerir não foi o fechamento do congresso.
Na verdade ele já havia lido o relatório elaborado pela organização Transparência Brasil, que tabulou a PRODUÇÃO LEGISLATIVA do senado de 2003 até hoje.
Se quiserem leiam no site a seguir: www.excelencias.org.br/docs/prod_leg_congresso.pdf
Acredito que o Cristovam viu no “senadinho pra inglês ver” no qual estava metido...

Não bastasse, hoje divulgaram que cada um dos 81 senadores da república faz jus, mensalmente, além das passagens mensais para seus currais, de mais uma passagem (ida-volta) mensal para visitar a cidade maravilhosa. E tem mais: se não usarem a regalia ela pode se acumulada para ser gasta para onde eles tiverem vontade, depois!!!

Já que estão falando tanto em abrir “caixas-pretas” (BB, Petrobras), por que é que eles não mostram o que está por baixo dessa ponta de iceberg, que semanalmente, mostra mais um pedacinho de sujeira? Ou não será a ponta, e sim o efeito estufa que está desintegrando gradativamente o grande iceberg?

A Miriam Leitoa nunca fala dessa realidade. Nem muito menos o Ronaldo Caiado e o Sérgio Guerra que querem vasculhar o BB, nem os honoráveis presidentes do PPS, PSDB e DEMO que querem a CPI da Petrobras. O que eles querem mesmo é terminar a obra que o saudoso Farol de Alexandria começou: privatizar o BB, a CEF e a PETROBRAS!

Já não agüento mais a carinha da Renata Vasconcelos(de Amélia, sempre atenta, subserviente e com sede de saber) a escutar o sabichão Renato Machado(cinicamente disfarçado de imparcial e preocupado), a perguntarem a Dona Leitoa: quando é que o mundo vai acabar mesmo? Quem é o culpado? Quem poderá nos redimir?

Hoje também assistimos ao PACTO DO TRÊS PODERES.
Como eu gostaria de acreditar que numa “canetada” os outros três(pob, pre e put) vão ter o acesso a cidadania que sempre lhes foi negado. Quase lacrimejei escutando o discurso do excelentíssimo presidente Gilmar Mendes.

Quando queremos ficar limpos precisamos primeiro tomar um banho! E é isso que eles tem que fazer: primeiro lavarem suas respectivas casas!
Minha vó já me dizia: “costume de casa vai à praça!”. E também repetia “mentira tem pernas curtas!”.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

OS ENTREGUISTAS DE NOVO

O IPEA divulgou um estudo técnico sobre o spread praticado pelos bancos no Brasil, o presidente do Banco do Brasil é substituído para reformular e reformatar, através da concorrência, o modelo dos bancos no Brasil, coisa muito saudável que vai estimular o consumo e a produção.

Mas o Ronaldo Caiado e o Sérgio Guerra querem convocar o ministro Guido Mantega para que ele explique o porque da mudança.
A Mirian Leitoa também começa a fazer coro com esses heróis do povo brasileiro.

O que na realidade eles estão fazendo é defendendo os interesses dos bancos privados “brasileiros”, dos investidores de capital especulativo, e daqueles que ainda sonham com a privatização do BB.

O BNDES nunca deixou de gerar lucros. O Banco do Brasil e a CEF também devem seguir o mesmo caminho, mesmo com a diminuição dos juros.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

A MAMATA CONTINUA NUMA BOA!

Como é possível que a câmara e o senado continuem surdos e cegos diante do clamor do povo brasileiro.
A divulgação da atividade parlamentar deveria se dar através de ações concretas de moralidade e probidade administrativas.
Na realidade eles só demonstram não possuírem o menor zelo pelo dinheiro do contribuinte. A câmara aprovou a criação de mais de 8.000 cargos de vereador (cabos eleitorais pagos com dinheiro público), sem restrição de gastos, e ficam discutindo o sexo dos anjos quando a questão é “verba indenizatória”.

A câmara e 2/3 do senado estão preocupados é com reeleição em 2010. Quem quer perder uma “tetinha” dessas?


O pior de tudo é que eles se negam a prestar contas do que gastam! Logo estarão alegando que é uma questão de segurança nacional! Mas a grande verdade é que quando eles atiram com a pólvora alheia, não medem nem a distância e nem o barulho do tiro!

Fiquei muito comovido com o instinto paternal do senador Tião Viana, afinal os R$ 14.758,07, referentes a uma conta (22 dias) de um telefone celular funcional emprestado a sua filhinha numa viagem internacional (ressarcidos após denúncia), não chega a um ano que 99,99% da população brasileira paga pela conta de um fixo e de um celular.

É vereador em São Paulo, é o Edmar, é a Luciana Cardoso, e tantos outros casos.
O tempo passa, o tempo voa, mas a mamata continua numa boa!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

MINHA DITABRANDA - 1ª Parte

1º de ABRIL – 45 ANOS DE INSTAURAÇÃO DA “DITABRANDA” ( 1ª Parte)

Já que alguns órgãos da imprensa negam, e dizem que a Ditadura foi uma Ditabranda, vou relatar a minha experiência com essa tal DITABRANDA.

No dia 1º de abril de 1964, como de costume, já antes das 07:00h estava acordado e pronto para ir para a escola. Lúcio Figueirôa, o meu vizinho da esquerda, me disse que não haveria aulas e que os tanques de guerra estavam nas ruas. Como já estava prevenido pensei que ele queria me pregar um 1º de abril. Aos poucos fui percebendo que algo de fato estava diferente. O carro do meu pai não se encontrava na garagem e não fui para a escola. O resto do dia foi de visitas inesperadas de tios e outros. No dia seguinte saímos e fomos para a casa da minha avó materna. Seguiram-se dias em que sucessivas vezes jipes apareciam procurando o meu pai, que de fato eu não sabia onde se encontrava. Estava sumido. Na época meu pai era deputado estadual e líder do governo de Miguel Arraes na assembléia legislativa. Oriundo do movimento sindical bancário e funcionário do Banco do Brasil há 18anos.

Como existia na minha casa uma relativa transparência de atos e fatos, eu já pressentia que se tratava do fato do meu pai ser “comunista”. Meu pai já me havia orientado a responder aos meninos da vizinhança, quando fosse chamado de “filho de comunista”, que: “é melhor ser comunista do que ladrão!”

Finalmente no dia 06 de abril soube que o meu pai se encontrava preso, mas que logo aquilo se resolveria. Assim começava a “ditabranda” para mim e para os meus. Longe da minha casa, do meu quintal com fruteiras e dos meus carrinhos de lata artesanais. Ao invés de uma rua de bairro, uma rua do centro da cidade.

Bem acolhido, amado e protegido. Mas longe da minha casa.

Houve o dia do “bota fora” e da “fogueira da santa inquisição”. Tentava salvar escondendo, livros, revistas de Cuba, flâmulas e broches. Mas por segurança tínhamos que nos desfazer daquele “material subversivo”. Eu não entendia como podiam as letras fazerem tanto mal as pessoas? Letras dos livros que meu pai tanto gostava. Consegui esconder e salvar duas caixas de charutos cubanos.

Foram meses de revolta interna movida tão somente pelas saudades e pelo sentimento de perda. O sentido da injustiça não se delineava bem na minha cabeça. Mas de uma coisa eu tinha certeza: meu pai não havia nem matado e nem roubado, ninguém e nada.

Foi nessa época que os meus tios (irmã da minha mãe e primo do meu pai), disponibilizaram parte de uma residência para minha mãe e os quatro filhos(dois casais). Era bem mais ampla do que a casa da minha avó materna.

Em julho de 1964 consegui ir visitar meu pai em Fernando de Noronha, indo num avião da FAB. Passamos umas 3 horas juntos, almoçamos, e ele me deu uma lata de suco de tomate que foi buscar na sua cela, “especialmente para mim”.

Foi durante esse período que quando chegava alguma correspondência do meu pai para a minha mãe, nós íamos ao IVº Exército, onde o então Coronel Ibiapina (hoje general de pijamas), lia na carta com o que “ele achava que devia ser lido” e logo após na nossa frente a rasgava e metia a mesma no balde de lixo.

Mais ou menos em setembro de 1964 ele veio para o Recife, e ficou na 2ª Cia de Guardas, onde diariamente eu levava uma marmita e um litro de leite. Muitas vezes no lacre de alumínio do litro de vidro do leite, minha mãe escondia um mini-bilhete para ele.

Em dezembro meu pai foi transferido para a Casa de Detenção do Recife, onde estavam Gregório Bezerra e Ivo Valença (dois que me lembro pois brincavam e conversavam comigo). Para as minhas duas irmãs, de 4 e 2 dois anos respectivamente, a Casa de Detenção era um “hospital”. Uma mentirinha para a pouca compreensão delas...?

Apesar de toda a adversidade do momento foi uma das noites de natal mais marcante e feliz que passei na minha vida. Na Casa de Detenção do Recife, com o meu pai preso, mas estávamos todos juntos, e era o que de fato era importante.

No começo de 1965, tentamos uma saída, e de novo com o casal de tios irmãos, pegamos uma carona para o Rio de Janeiro, num Aero-Willis 2600. O irmão do meu pai, um tecnoburro oriundo do BID, não conseguiu agüentar a barra até que um Habeas-Corpus fosse deferido para o meu pai.
Ao final de fevereiro de 1965, eu e meu irmão voltamos para o Recife.

Creio que na realidade o meu “tio gilvan” não queria comprometer a sua carreira profissional com aspectos fora do seu contexto.

Em fevereiro de 1965, eu e meu irmão Ivan, voltamos para o Recife.

De novo a mesma maratona.

Em abril de 1965, por força de um Habeas-Corpus, meu pai foi libertado enfim. Foram 369 dias preso.

Ainda tentou permanecer em Recife, mas as insistentes “visitas e convites” do DOPS, acabaram com as esperanças de um possível recomeço. Ele deixou Recife rumo ao Rio de Janeiro. Aí começava o grande êxodo do meu pai. França, Checoslovaquia, Bulgária, Hungria, Argélia, e por fim se exilando na Republica Oriental do Uruguai.

Vocês não imaginam o que a falta e o desconhecimento de um destino fazem com a cabeça de uma criança.
Terminei o ano de 1965 sendo suspenso da escola primária, com uma típica revolta sem causa e mais uma vez maculado no meu direito.

O ano de 1966 não seria dos melhores. Por medo ou precaução os familiares acharem por bem me inscreverem em um colégio interno. Os beneditinos, ou por fama ou por conservadorismo, foram os escolhidos: MOSTEIRO DE SÃO BENTO DE GARANHUNS.
Só quem viveu situação semelhante pode avaliar o que é.
Enxoval de pijamas de flanela, cobertores, tudo em conformidade com as regras “monásticas”.

No primeiro dia chorei na cama antes de dormir. Mas tinha sido educado a “quando gostar mastigue, quando não gostar engula!”

Após 45 dias, meu irmão Ivan, também veio dividir a minha agonia. Já não estava tão sozinho.
Conseguimos superar o ano, e ao final de 1966, fomos surpreendidos com uma notícia no mínimo alvissareira: iríamos viajar para nos encontrar com papai.

Em dezembro de 1966, iniciamos uma viagem rumo a Montevidéu-Uruguai. Recife-Rio; Rio-São Paulo; São Paulo-Curitiba; Curitiba-Porto Alegre e Porto Alegre Montevidéu.

Só quem passou tanto tempo sem avistar o pai sabe o que significou o nosso reencontro. Foi como se todo o mal estivesse enterrado.

No minúsculo apartamento do meu pai, na playa de pocitos, a geladeira estava repleta daquelas frutas típicas e anormais aos climas quentes: uvas, ameixas, pêssegos.

Enfim o terror havia acabado.
Neste final de ano (1966) e inicio de verão de 1967, tive a grata satisfação de conhecer homens como Darci Ribeiro, Amauri Silva, João Goulart, Leonel Brizola, Stanford, Cláudio Braga, Almir Braga, dentre tantos outros que me causavam admiração.

Foi um verdadeiro “summer holliday”. Afinal, depois de tanto sofrimento eu estava de novo feliz e alegre, no fundo da minha alma.

O meu pai, de vez em quando, também sorria e brincava conosco, com as suas gargalhadas personalíssimas.

Parodiando Neruda, confesso que estava feliz.

Fomos matriculados, eu e Ivan(meu irmão) numa escola do Uruguai – Escuela Brasil.
A vida parecia que tinha voltado ao seu ritmo normal. Aprendemos a língua e parte da história e geografia do país.

Dois meses depois minhas duas irmãs, Susana e Helena, vieram completar a família.

Vocês não imaginam o que é um casal com quatro filhos morar em um kitnet, composto de quarto, sala cozinha e banheiro! Neste pequeno imóvel a minha mãe lavava as roupas de todos. Cama, mesa, banho e roupas pessoais. Hoje reconheço a fibra e a coragem que ela tinha. Nunca disse um ai!
Éramos todos lutadores. E tínhamos o tal espírito de corpo!

Como em 1968 eu e meu irmão começaríamos o ginásio, deveríamos voltar para estudar no Brasil.
Voltamos para Pernambuco, e fomos para um internato em Garanhuns/PE, o Colégio Diocesano. Nesse Colégio tínhamos o apoio de Miguel Malta e João Bosco Coutinho, simpatizantes do movimento progressista, e aparentados de amigos do meu pai.
Ao final do ano quando estávamos retornando ao Uruguai, tínhamos feito uma escala estratégica no rio de Janeiro, e lá nos encontrávamos na fatídica sexta-feira, 13 de dezembro. A coisa não dava sinais de melhora, ao contrário o AI 5 acabou de vez com todos os direitos.

Passamos o final do ano em Montevidéu e as férias, para no início do ano de 1969 irmos estudar, internos também, em Porto Alegre no Colégio Marcelino Champagnat.

Foram tempos difíceis, mas entremeados de novos horizontes, novos hábitos e culturas. Dizem que toda coisa ruim traz uma coisa boa.

No final de 1969 retornamos, eu e meu irmão, para o Uruguai, e tivemos a notícia de que voltaríamos para o Brasil.

Fomos em partes para o Rio de Janeiro.

Alugaram um apartamento entre Santa Tereza e o Catumbi. Meu pai se chamaria Amauri Lages, e as meninas foram orientadas a não falar em Uruguai. Tanto que de vez em quando as duas em conversas se repreendiam mutuamente:”não se pode falar em Uruguai”... Seria cômico se não fosse trágico. Eu e Ivan ganhamos bicicletas semi-novas, rodamos e conhecemos o Rio de Janeiro, horizontalmente e verticalmente. Zona sul, norte, mata da gávea e estrada do corcovado. Também fizemos programas com a família toda reunida: museu da Quinta da Boa Vista, Museu do Índio, Urca e Pão de Açúcar.

Assistimos o 1000º gol de Pelé, rompemos o ano na praia de Copacabana.

O ano de 1970 começava sob o comando sangrento de Médici. Em fevereiro um amigo do meu pai foi preso, junto com a família, e o seu filho de 11 anos foi torturado na frente dele.

Isto significou a gota d’água para o meu pai. Ele não correria o risco de ver sua família ser torturada. Teríamos que retornar para o Recife. Ele iria se virar sozinho. E um dia nos reencontraríamos...

E assim no final de fevereiro de 1970 estávamos de volta ao Recife. Conseguir colégio para os quatro e todas as necessidades que vinham junto: fardas, sapatos, livros, cadernos e material escolar. Eu fui para o Salesiano, Ivan para o Marista, Susana e Helena para o Nossa Senhora do Carmo.

Creio em fins de março, os meus tios (Célio e Lourdinha), de novo cederam uma residência para nós. Desta vez na praia de Piedade. De todos os nossos parentes foram esses os mais presentes, ou parafraseando: “os amigos mais certos das horas incertas”. Eles e os filhos deles, os nossos primos-irmãos – Celinho, Fernando Roberto, Eliane e Ricardo Luiz
Apesar de estudarmos em colégios de bom nível educacional e pedagógico, era através de bolsas com 50% de abatimento.
Com os atos institucionais, além da cassação do mandato, o meu pai foi demitido do Banco do Brasil, e considerado “morto-contábil”. Minha mãe recebia uma pensão do INSS de cerca de 3,5 salários-mínimos.

No Colégio Salesiano eu era chamado de “vermelhinho”, por me posicionar sempre à esquerda diante de tantos filhos da pequena-burguesia recifense, e de cerrar filas com o Pe. Ivan nas suas “aulas de religião”, onde analisava as letras de Geraldo Vandré, como por exemplo Porta Estandarte: “Olha que a vida tão linda se perde em tristezas assim/ Desce o teu rancho cantando essa tua esperança sem fim/ Deixa que a tua certeza se faça do povo a canção/ Pra que teu povo cantando teu canto ele não seja em vão”...

Ano difícil este em que tínhamos 90 milhões em ação e tudo era pra frente Brasil!...
O povo amordaçado, a censura não permitia nem que se publicasse o nome D. Hélder. No Brasil afora as prisões ilegais, as torturas e os assassinatos eram a marca comum daquele presidente Médici.
Acredito quer foi nesse momento que começou a desconstrução do nosso atual aparato de segurança pública, que resultou na corrupção que vivenciamos hoje, onde qualquer agente de segurança, civil ou militar, pensa ter o poder de vida e de morte, e conta com a certeza da impunidade por atitudes coorporativas nas instaurações dos inquéritos/processos. Eles fizeram muito bem o “serviço sujo” que a repressão tanto precisava. E tudo em nome de Deus, da Família e da Propriedade...

No final do ano de 1970, nas festas de Natal e Ano-Novo, conseguimos falar com papai por telefone. Como uma voz vale mais que mil presentes!

E 1971 começou. Novas esperanças de que num passe de mágica o pesadelo iria terminar e tudo voltaria a ser como antes do início da “ditabranda”.

Para um adolescente de dezesseis anos, com casa, comida, escola, roupa lavada, muitos colegas no colégio e na praia, a vida consegue ter um aspecto quase que normal. Nessa época já começava a gostar de uma batida de limão. Bebida barata e bastante desinibidora. Também costumava fumar nos fins de semana.
Tinha uma namorada e isto somado ao resto, me causava uma sensação de segurança e realização. Dava até para esquecer a vida diferente que levava. Tentava aprender a aranhar o violão com as musicas de Tim Maia, Paulo Diniz, Chico Buarque e Roberto Carlos.

O ano de 1971 terminou sem nenhuma novidade. De novo as festas de Natal e de Ano Novo na casa dos meus tios, com os mesmos telefonemas do meu pai e as novas esperanças de que 1972 haveria de ser o ano em que tudo voltaria ao normal.

De novo toda a rotina do início de ano. A novidade é que tanto eu quanto meu irmão Ivan, não tínhamos conseguido um resultado positivo nas provas de segunda época (hoje se chama provas de recuperação). Fomos estudar no Colégio Carneiro Leão, que tinha uma prova de segunda época para àqueles alunos que não tinham conseguido passar nos seus colégios.
O nosso primo Fernando Roberto era professor de matemática no Carneiro Leão e de alguma forma deve ter facilitado a nossa matrícula.
Até hoje o meu irmão Ivan reconhece que foi graças a esse primo que ele começou a achar a matemática descomplicada e a tomar gosto por ela.
Eu comecei o ano encarnando “l’enfant terrible”. Já não conseguia respeitar os limites impostos por uma sociedade hipócrita, mentirosa e de falsos bons costumes. Da igreja eu já não esperava grandes milagres, e só respeitava alguns homens de boa vontade que vestiam batina. A instituição igreja já era uma coisa falida e mentirosa, creio que quase já a enxergava como o ópio do povo.

No meio do ano, junho/1972, eu, meu irmão e minha mãe, fomos para o Rio de Janeiro a fim de nos encontrarmos com papai e passarmos as férias juntos. Como ele se encontrava na clandestinidade o encontro teria de ser cheio de “truques e estratégias”. Ficamos na casa de um primo do meu pai (Clécio) que morava no Grajaú, e fomos nos encontrar com ele numa praça em Vila Izabel, creio que era a praça Barão de Drummond.

Lá ficamos sabendo que papai estava em São Paulo, e que eu e Ivan iríamos com ele de carro, e depois mamãe iria. Por motivos de segurança. Quase dois anos depois voltamos a rever o nosso pai, que tanto a nossa mãe admirava e nos fazia endeusar também.

No dia seguinte saímos de táxi e nos encontramos com ele na mesma praça, de onde seguimos viagem para São Paulo.

Ao chegarmos em São Paulo ficamos hospedados na casa de um amigo dele, João Guerra e Conceição, que nós já conhecíamos do Recife.

Nosso pai traçou roteiros e planos para aquele mês de julho. Em alguns dias sairíamos da casa dos Guerra (rua Veiga Filho), seguiríamos um roteiro de ruas até o centro e iríamos almoçar com ele. Ele estava trabalhando na Arte & Comunicação, uma editora que publicava o Jarnalivro, a Turma da Mafalda e do Charles Brown, e também a revista Bondinho, que era distribuída nos supermercados Pão de Açúcar.
Fomos orientados, entre outros programas, a irmos de ônibus ao Museu do Ipiranga. Conhecemos também o Planetário do Parque Ibirapuera.
Meu pai realmente gostava de ensinar a pescar!

De uma maneira muito sutil tomamos conhecimento que o nosso pai estava vivendo com uma mulher. Fomos apresentados e muito bem recebidos. Conhecemos um casal Sandra e Zé Fernandes, que deviam ter entre 30 e 35 anos. Eram alegres e de idéias jovens. Sandra me presenteou com uma jaqueta “meio hippie”.

Após uns 15 dias a minha mãe chegou. Com ela fomos visitar uns compadres dos meus pais em Santos (João e Terezinha Grizzi), papai nos levou pela antiga estrada de São Paulo-Santos, que é cheia de paradas imperiais, uma estrada estreita, perigosa, mas de paisagens inesquecíveis.
Em São Paulo fizemos visitas a casa de Epitácio e Lourdinha, que também já conhecíamos do Recife, e minha mãe era também amiga deles, e nós já conhecíamos os filhos deles, Ana Cristina, Tacinho, Sidnei e Ricardo, deste último meus pais eram padrinhos.

A essa altura dos acontecimentos havia uma proposta para que em 1973, eu e Ivan fossemos morar e estudar em São Paulo com papai. Creio que sem nenhuma hesitação nós dois topamos de cara. Após toda a peregrinação sofrida desde 1964, teríamos de novo o nosso pai conosco. Só teria um porém: mamãe não poderia ir.
Ela em nenhum momento se opôs ao nosso desejo, e nunca falou uma palavra de desgosto ou de rancor para com o meu pai, e nem tampouco para com nós sois

Antes de retornarmos para Recife, tomamos aquele banho de loja na Rua Augusta, e nos despedimos com a certeza de um reencontro no final do ano. São Paulo inebriava naquele começo de década, era a encarnação do primeiro mundo, e como enchia os meus olhos.

Voltamos e desfazendo as malas e mostrando as novidades aos nossos amigos vizinhos, tínhamos ganho também um gravador K7 Sony, e era pra época o top da high tech.

O meu vizinho Nenê, irmão de Nequinho, observando a jaqueta que eu tinha ganho de Sandra em SP, notou que ela tinha um compartimento secreto. Naquele compartimento secreto, descobrimos um pozinho verde, que Nenê jurou ser maconha. Como aquele meu vizinho de abril de 1964, Lúcio Figueirôa, estudava na minha sala de aula no Carneiro Leão e era um cara por dentro das coisas, resolvi levar para ele analisar o material. Era mas não dava pra nada. Ele me disse que conseguiria um cigarro pra que eu experimentasse

No dia seguinte ele levou, e ao chegar em casa já avisei a Nenê a “novidade”. Combinamos que depois do almoço iríamos para atrás de casa, nos cajueiros experimentar.

Levei um radinho de pilha, dois cigarros da minha mãe, uma caixa de fósforos e o “cigarrinho”. Ficamos de cócoras e acendemos o “baseado”. Segundo Nenê era para tragar e segurar a fumaça o máximo possível. Após umas dez tragadas, comecei a escutar a música do radinho meio diferente, como estava de cócoras sentia as pulsações do meu coração se irradiando, ao olhar para Nenê ele também estava meio diferente, então comecei a rir sem medidas e sem medo, e ele me dizia fica quieto pó, não dá bandeira! Não adiantava quanto mais ele falava e tentava se aquietar, mais eu ria. Voltamos para casa.

Eu com uma crise de risos e ele meio sisudo e medroso. Cheguei em casa, comi quase que 1/3 de uma lata de goiabada e creio que um litro d’água. Me deitei o literalmente comecei a fazer uma viagem por dentro do meu corpo.

No começo da noite acordei, e Nenê veio me dizer que não tinha conseguido ir ao colégio – ele estudava de tarde.
Para mim a experiência tinha sido realmente interessante.

Dizem também, que toda coisa boa traz consigo uma coisa ruim.

De fato aquele segundo semestre de 1972 não seria dos melhores.
A minha procura pela “erva” se iniciou, e o meu interesse pelos estudos foi inversamente proporcional. Não via a hora de chegar o fim do ano para ir morar em São Paulo.
E não deu outra fui reprovado e meu irmão colou comigo, ou seja cursaríamos a mesma série. Em 1973 eu iria repetir o 1º ano científico (1º ano do segundo grau) e ele iria iniciar.
O fim do ano chegou e no meio do mês de dezembro viajamos para São Paulo. Estávamos prontos para o começo de um admirável mundo novo.

Logo que chegamos conhecemos o nosso novo apartamento. Camas novas, escrivaninhas e estantes individuais. Tudo mobília conteporânea.

Avisei a papai do ocorrido no Recife com relação ao real motivo da minha repetência de ano. Ele de novo me alertou sobre a sua situação de clandestinidade e me disse que caso eu sentisse vontade de fumar, não fosse procurar na rua porque colocaria em risco a sua condição.

Nesse ano de 1973, ele estava trabalhando numa agência de propaganda e publicidade. A Marcus Pereira Publicidade. A conta da Cia. Cacique de Alimentos era dele. Era o lançamento do Café Pelé. E tive a oportunidade de conhecer o atleta do século e também o Emerson Fittipaldi pela Coopersucar.

Fomos estudar no Colégio Integrado Objetivo, situado na Av. Paulista. Para 1973 era um colégio com recursos didáticos avançados, correção de provas por leitura ótica, e todo material didático de produção própria, incluindo circuito fechado de TV para aulas de revisão e testes simulados. Até quem não fizesse força não tinha como não aprender. Era só freqüentar as aulas e as revisões. Pouca vezes na vida tive tanto gosto de estudar. O demais alunos que começaram a fazer parte da minha turma cultivavam um gosto pela leitura, e foi justamente nesse época que li os clássicos de Herman Hesse, Aldous Huxley, Timothy Leary e Carlos Castañeda. Também me iniciei no uso dos expansores de consciência e de fato o mundo lisérgico quando orientado para certos objetivos e pensamentos, promovem uma abertura na compreensão do sentido da amplidão e da pequenez do ser, que muito contribuem para a formação de um espírito solidário e mais compreensivo das diferenças, e do que realmente é importante na vida. Quase que compreendi a frase: “A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo!” (Demian - H. Hesse).

Nesse ano além das histórias que ouvia em casa sobre prisões e torturas de comunistas, também convivi com conflitos domésticos. A mulher do meu pai, uma senhora de mais de trinta anos, no mais puro estilo balzaquiano, obrigou a saída do meu irmão Ivan – 16 anos de casa. Meu pai era comunista idealista e à margem da corrente que defendia o conflito armado como forma de conquista do poder. Não soube administrar o conflito de um adolescente de 16 anos, meu irmão, com uma mulher de formação superior e adulta...
O ano de 1973 terminou, meu irmão Ivan retornou para Recife/PE, e eu fui “orientado” por meu pai a procurar um emprego. Tinha completado 18 anos em novembro. Não pude passar as férias com a minha mãe, e meu único objetivo era um emprego.

Em janeiro de 1974 consegui um emprego como escriturário no Banco Novo Mundo, agência Pamplona.
Também consegui uma bolsa de estudos integral, no Colégio Objetivo.
Estudava de 07:30h às 11:30h, voltava para casa almoçava e me dirigia ao banco para uma jornada de 12:30h às 18:30h.
Nesse ano meu pai estava gerenciando uma fábrica de óleo de soja em Cafelândia, interior de São Paulo. A dura poesia de Sampa começou a bater na minha cabeça.
Em setembro de 1974, retornei para o Recife, e lá terminei o 2º ano científico.
Entre dezembro de 1974 e fevereiro de 1975, trabalhei de 24:00 às 06:00 no Mar Hotel em Recife, era mecanógrafo. A pessoa depois que se acostuma a trabalhar para ganhar dinheiro, se ressente da falta do danado!
Em março começou o último ano, antes do vestibular. Estava com 19 anos e bebendo leite em peito de onça!
E “não era belo mas mesmo assim haviam mil garotas sim!” Ao invés de Help, Ticket to Ride, Lady Jane ou Yesterday, eu cantava “ Caminhando ou Pra não dizer que eu não falei de flores”.
Fim um curso de programação liguagem Assembler, e em outubro de 1975 comecei a trabalhar na Fundação de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife. Voltei a ter dinheiro no bolso. Redirecionei o meu vestibular de engenharia mecânica para ciências econômicas (noturno).
Em janeiro de 1976 fui aprovado na Universidade Federal de Pernambuco.
AMANHÃ SEGUE a 2ª Parte
Gilberto de Azevedo