"Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas, mas nenhuma delas é cubana." FIDEL CASTRO

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

REFLEXÕES DE ALÉM MAR


1 de setembro de 2011

Anti-imperialismo tropical

Termino a última matéria do dia junto com o primeiro chope, num barzinho de Lisboa. O chope custa menos que no Rio. 
Passeando pela cidade, paramos diante de uns anúncios de imóveis e constatamos que um apartamento em Lisboa custa menos da metade que um similar no Rio. 
O hotel e a alimentação aqui são igualmente mais baratos que na minha cidade. 
Imagino que, não fosse as leis protecionistas da União Européia, o Brasil poderia engolir sua antiga colônia. 
O antigo sonho imperial lusitano terminou com um brasileiro bebendo altivamente num barzinho transado do Bairro Alto.

Penso nisso enquanto medito sobre os imperialismos de hoje e ontem. Acabo de ler mais uma matéria do Pepe Escobar na qual ele faz diversas menções positivas ao Kadafi, o que me fez sentir mais remorso por ter me posicionado tão duramente contra o velho ditador líbio. 

Evidentemente, eu me deixei levar pela onda de entusiasmo que varreu a intelectualidade ocidental ao ver os árabes derrubando tiranos e pedindo democracia e liberdade. 
Afinal, esses valores não são bandeiras da direita americana, como às vezes parece. São valores que fundamentam a nossa própria espiritualidade, para usar uma palavra bem forte.

Pepe Escobar e todos os analistas apontam a grande hipocrisia ocidental, que consiste em dar apoio às ultra totalitárias dinastias sauditas. 
De fato. O Ocidente vem destruindo os melhores países do norte da África, em prol de valores absolutamente filisteus. Primeiro foi o Iraque, um dos poucos regimes verdadeiramente laicos da região. Agora a Líbia, o único país árabe que fazia alguma coisa em prol da miserável África subssariana. 
Enquanto os europeus se limitam a dar esmolas que, em última instância, apenas devastam ainda mais os últimos vestígios industriais do continente negro, Kadafi articulava o fortalecimento da União Africana e a criação de uma moeda única.

Bem, isso é o que agora falam os defensores de Kadafi, e me sinto inclinado a acreditar neles, por causa do meu remorso diante da guerra, mas é evidente que a ditadura líbia cometeu o erro político fundamental, que é subestimar o valor da liberdade política. 
Tudo bem, a Arábia Saudita, o Barhein, etc, também cometem os mesmos erros e não são destruídos pela Otan. Mas a ditadura é um erro em toda parte: e uma hora ou outra, esse erro converte-se em alguma forma de tragédia, além de ser uma tragédia em si.

Há algum tempo que venho meditando sobre esse novo imperialismo e suas conexões com os antigas edições do mesmo fenômeno. São muito parecidos, por mais que as tecnologias tenham avançado. Quando vejo Hillary Clinton na tv falar que o governo da Síria tem de mudar, e que os sírios merecem isso e aquilo, tenho a sensação estranha de que aquilo é alguma uma ficção bizarra. A diplomacia americana é incrivelmente tosca e agressiva. 


Com que direito os EUA se arrogam donos do futuro da Síria? Que visão de democracia imbecil é esta segunda a qual os povos não tem direito de decidir por si mesmos o seu futuro?

Por outro lado, é tão interessante observar como esses imperialismos, sem exceções, declinam e desaparecem. Da mesma forma, tento ver um lado positivo em tudo isso. Já li Voltarei e sei quando o otimismo pode ser idiota, mas é que eu penso nos imperialismos gregos e romanos. Eles também espalharam morte, devastação e injustiça. Destruíram culturas, sistemas políticos e formas originais de organização social.

Eram outros tempos, todavia. Ou supõe-se que eram outros tempos. Ao ver as matanças na Líbia, humanidade não parece ter mudado tanto. Enfim, nós brasileiros, assistimos Portugal matar toda uma raça de índios. E hoje, eu, bisneto de índios, bebo um chope em Lisboa com um sensação algo vingativa de que sou mais bonito e mais rico de que todos esses portugueses a meu redor. O tempo passou, o imperialismo lusitano caducou e a história das injustiças encerra-se, como sempre, com alguém bebendo um chope e divagando pacifica e melancolicamente, sobre as violências do passado e as loucuras do presente. 

ORIGINAL EM: 
http://oleododiabo.blogspot.com/2011/09/anti-imperialismo-tropical.html?showComment=1314969704520#c8670894026305512215

...

2 comentários:

  1. Lembrar que o Império Protuguês nunca foi independente. Sempre foi subordinando a outros impérios, principalmente o Inlgês. Praticamente toda a riqueza que os lusos retiraram do Brasil foram parar nas mãos do Holadeses e posteriormente Ingleses. Apenas pilhavamn o mundo para combrar produtos holandeses e ingleses.

    ResponderExcluir
  2. Meu amigo Antônia Carlos:

    Seu comentário fechou com chave de ouro o artigo...e, a dominação neocolonialista continua!

    ResponderExcluir