Laerte Braga
Em pleno funcionamento do Congresso Nacional Constituinte (não tivemos Assembléia Nacional Constituinte) e ainda sob a tutela de setores das forças armadas, pior, sendo presidente da República José Sarney (aliado incondicional da ditadura militar), o trêfego Pimenta da Veiga, deputado eleito pelo PMDB de Minas, buscava assinaturas para propor emenda ao anteprojeto de Constituição que determinava a liberação de documentos secretos do governo federal após vinte e cinco anos e em casos extremos, após cinqüenta anos, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos.
Um dos deputados procurados por Pimenta da Veiga foi Amaral Neto, oriundo do lacerdismo e figura fundamental para a ditadura em seus primeiros momentos. A resposta do deputado carioca foi fulminante – “você está louco, quer por fogo no Brasil?”
Pimenta da Veiga, bem ao seu estilo tucano (é anterior à fundação do PSDB) respondeu que aquilo não era para valer, era apenas para fazer média com seu eleitorado.
Não prosperou como era fácil de prever. E Amaral Neto não assinou.
A candidatura do general Ernesto Geisel à presidência da República em 1974 foi imposta por seu irmão, Orlando Geisel, todo poderoso ministro do Exército, do famigerado governo de Garrastazu Medice.
Geisel fora chefe do Gabinete Militar de Tancredo Neves, no breve período parlamentarista no governo de João Goulart, historicamente era ligado ao marechal Lott – falo de Ernesto – e tido como militar anti-americano entre seus pares. Escapou do processo de degola nas forças armadas após o golpe de 1964 por conta de dois fatores. O primeiro deles Castelo Branco. Foi o presidente que abriu a temporada de barbárie e era amigo íntimo do Geisel que viria a ser o futuro presidente. Segundo, seu próprio irmão, Orlando.
De qualquer forma foi jogado em escaninhos das forças armadas. Primeiro na PETROBRAS e em seguida no STM (Superior Tribunal Militar), uma espécie de velório para militares incômodos ou então prêmio para amigos dos donos do poder.
O principal mentor político de Geisel, ou oráculo do ex-presidente, era Tancredo Neves, então deputado federal do PMDB. E foi de Geisel que partiram as primeiras articulações dentro das forças armadas para levar Tancredo a ser o primeiro presidente civil no pós ditadura.
Entre o golpe de 1964 e sua candidatura presidencial Ernesto Geisel dedicou-se ao exercício de não falar nada, entrar na muda como dizem em Minas, para evitar ser estraçalhado pela chamada linha dura – extrema direita – do Exército brasileiro.
A própria escolha de Garrastazu Medice se deu após o golpe dentro do golpe em 1968, com a incapacidade do presidente Costa e Silva, num processo eleitoral interno, dentro das forças armadas. Disputou a indicação e venceu o general Afonso de Albuquerque Lima, que acabou ministro do Interior.
Medice era o preferido dos grupos de repressão e as eleições nos quartéis quase que repetiram o sistema de votação anterior à revolução de 1930. Voto aberto e sob vigilância dos setores que detinham os comandos. Era uma época em que a tal hierarquia se fundava na maior vocação para a barbárie. Vale dizer que em determinados momentos sargentos mandavam mais que majores, capitães, por aí afora.
Contava o número de escalpos de presos políticos torturados, presas estupradas, assassinatos, o de sempre em regimes dessa natureza e com essa característica.
Sem julgamento de mérito, Ernesto Geisel equilibrou-se entre concessões à linha dura e atitudes como a mandar Delfim Neto para ser embaixador em Paris, numa espécie de exílio dourado, mas longe do Brasil, conhecida a extraordinária capacidade do ex todo poderoso ministro para articulações de bastidores (fofocas para ser mais direto).
A cada passo numa direção Geisel dava outro noutra direção.
O assassinato de Wladimir Herzog foi um desafio à determinação do general presidente de colocar um fim à tortura. Mas só conseguiu demitir o comandante do antigo II Exército, com a segunda morte, a do operário Manuel Fial Filho. Geisel, dentro de seu Ministério, tinha um adversário, Sílvio Frota, ministro do Exército e ligado à linha dura.
A vitória final de Geisel só veio quando da indicação do general João Baptista de Oliveira Figueiredo para seu sucessor. Com apoio do chefe do Gabinete Militar Hugo de Andrade Abreu o presidente deu um contra golpe às manobras de Sílvio Frota. O ministro pretendia ser ele o indicado para concorrer à sucessão presidencial.
A rigor, Frota, que tinha como certo o apoio da maioria da tropa, foi pego de surpresa e praticamente ficou detido no chamado Forte Apache – Brasília – enquanto Hugo Abreu anulava suas forças principalmente dentro do Exército.
O golpe militar de 1964 promoveu o maior expurgo na história das forças armadas brasileiras. Mais de dois mil e quinhentos oficiais, suboficiais e sargentos foram reformados ou demitidos, muitos deles presos e assassinados, caso do capitão Lamarca e do major Cerveira, por exemplo. Ou do brigadeiro Rui Moreira Lima, de larga tradição legalista dentro da força aérea, vivo até hoje e exemplo de brasilidade em todos os sentidos.
O próprio Eduardo Gomes, fundador e patrono da Aeronáutica brasileira foi colocado numa geladeira ao dar apoio ao capitão Sérgio Macaco punido por ter denunciado o plano terrorista do brigadeiro Burnier. Esse queria explodir o gasômetro no Rio de Janeiro e colocar a culpa do atentado nos comunistas, aumentando o tom da repressão. Anulando os chamados setores moderados do golpe.
Há dúvidas sobre as circunstâncias da morte de Castelo Branco, como resta como última tentativa visível de sobrevivência das forças de extrema direita, o fracassado atentado do Rio Centro, no Rio, durante um show de música popular brasileira. No governo Figueiredo. A bomba explodiu no colo de um sargento que estava a bordo de um automóvel PUMA com um capitão, ambos encarregados do atentado. Os culpados seriam os comunistas.
O sargento morreu e o capitão terminou coronel. Valeu a saída de Golbery do Couto e Silva, ligado a Geisel e que defendeu a punição dos culpados com inquérito público.
O processo democrático, numa boa medida, implica em reconstrução das forças armadas brasileiras. A imensa maioria dos chefes militares continua batendo continência para a bandeira e os interesses dos Estados Unidos e enxergando a presença de comunistas debaixo de cada cama de cada brasileiro.
Não há um compromisso explícito dos militares brasileiros com o País, mas com empresas multinacionais, latifúndio e a política imperialista dos EUA. Vivem ainda na pré-história, no tempo da guerra fria.
Uma das atitudes de Geisel quando presidente foi romper o acordo militar Brasil – EUA. Uma das concessões mais perigosas do governo Lula na sua política de uma no cravo e outra na ferradura foi o de reatar esse acordo.
Outra atitude de Geisel foi fortalecer a IMBEL (INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MATERIAL BÉLICO) e a ENGESA (ENGENHEIROS ESPECIALIZADOS S/A). Num dado momento os veículos militares brasileiros, produzidos por essas empresas estatais, OSÓRIO e URUTU se mostraram superiores aos produzidos pela indústria bélica dos EUA, da França, da Grã Bretanha, da Bélgica e ganharam mundo afora sobretudo países árabes como a Líbia e o Iraque.
A EMBRAER, ainda estatal, começou a desenvolver em parceria com setores da construção aeronáutica da Itália, um projeto de caça bombardeio com tecnologia brasileira e italiana.
Quando citei acima a questão dos documentos secretos tinha em mente a história até agora secreta, das pressões e ações (de guerra inclusive) do governo dos EUA, contra a exportação de equipamentos bélicos produzidos por empresas estatais brasileiras para outros países.
O sucateamento da ENGESA e da IMBEL começou no governo Figueiredo e foi acentuado nos seus sucessores civis. A EMBRAER estatal, capaz de colocar a indústria aeronáutica brasileira entre as melhores do mundo, foi privatizada no governo de FHC.
Nada por acaso, tudo deliberado em Washington. Militares e governos subordinados aos interesses norte-americanos.
É recente a decisão do governo do ex-presidente Bush de vetar a venda de aviões de treinamento tucano da EMBRAER para a Venezuela. Por deterem tecnologia norte-americana em determinados componentes e pela participação acionária de grupos dos EUA.
Essas concessões, perigosas e que ferem a nossa soberania, plenas a absolutas no governo de FHC, cederam, por exemplo, no primeiro escândalo daquele governo (por si só um escândalo), o controle da Amazônia, no projeto SIVAM – SISTEMA DE VIGILÂNCIA DA AMAZÔNIA –, operado por uma “empresa” dos EUA e militares brasileiros, ou supostamente brasileiros.
FHC só não cedeu a base de Alcântara, no Maranhão, por força da pressão popular e da reação de setores nacionalistas das forças armadas.
A hipótese da eleição do candidato José Arruda Serra abre a possibilidade tão sonhada pelos norte-americanos no campo militar. Bases no Brasil. Na Amazônia, no Nordeste e no Sul.
Várias tentativas já foram feitas e refugadas.
Como dizia Nixon, “para onde se inclinar o Brasil, vai se inclinar a América Latina”, logo, é fundamental ter o controle do Brasil.
Num momento em que os EUA assumem o controle de praticamente todo o mundo a partir de uma “uma embriaguês pelo poder militar” (definição de Hans Blinx, inspetor da ONU no Iraque à época que precedeu a invasão - 2003 – e constatou a mentira das armas químicas e biológicas) o Brasil ganha contornos vitais para a política capitalista e imperialista norte-americana.
A presença de governos independentes e com projetos de integração latino-americana como o da Venezuela, da Bolívia, da Nicarágua, Cuba, a própria Argentina e o Brasil noutra dimensão – uma no cravo outra na ferradura – ou o “capitalismo a brasileira” como bem definiu Ivan Pinheiro, secretário geral do PCB – Partido Comunista Brasileiro – e candidato à presidente da República, transforma o processo eleitoral brasileiro num jogo decisivo para as políticas norte-americanas.
Lula reativou o acordo militar com os EUA e com isso abriu espaços para os militares que vestem fardas brasileiras e pensam e prestam obediência a Washington e em seus quase oito anos, não foi capaz de resolver o problema de novos caças bombardeios para a FAB – FORÇA AÉREA BRASILEIRA -, tamanhas as pressões dos EUA, tanto quanto, retardou a construção de submarinos nucleares, indispensáveis à nossa soberania. A compra de dois desses submarinos à França foi paliativo, temos tecnologia nacional para construir essas belonaves.
Se uma no cravo e outra na ferradura é uma forma de buscar avanços compensatórios em outros setores, é algo a se discutir. As concessões muitas vezes, ou todas as vezes, são maiores que os ganhos. A própria política de alianças é complicada quando se tem setores do latifúndio próximos do governo.
O agronegócio é uma das formas de dominação econômica e estratégica. Está todo ele em mãos estrangeiras. Cria um nível de dependência absoluto na agricultura.
É claro que retrocesso é José Arruda Serra. Não significa que Dilma Roussef seja avanço lato senso. Significa que uma volta aos tempos de FHC liquida qualquer perspectiva a curto e médio prazo de nos transformamos numa potência livre, soberana e justa em todos os sentidos.
E isso, como disseram Ivan Pinheiro em entrevista a RECORDNEWS e Plínio de Arruda Sampaio no debate da BANDEIRANTES, vai depender basicamente dos movimentos populares. Da formação e organização. São a força motriz da real independência do Brasil.
Se não temos bases militares dos EUA no Brasil, temos boa parte de nossas forças armadas colonizadas e subordinadas aos EUA.
E o maior de todos os desafios em tempos atuais. O da Comunicação. A grande mídia em nosso País é tudo menos brasileira. Controlada por grupos econômicos estrangeiros, submissa a interesses de potências outras. Concentrada em poucas mãos, poucas famílias (mafiosas), tenta moldar o pensamento do brasileiro de tal forma que num dado momento, por exemplo, saci pererê some para dar lugar ao haloween. Nossas escolas, tanto privadas como públicas, já incorporaram essa data ao seu calendário. É só um exemplo.
A história real do Brasil precisa ser conhecida. Precisa ser pública. E um desafio, dentre tantos para o próximo governo, o Poder Legislativo, é acabar com os segredos de Estado.
Exibir a barbárie nua e crua da ditadura militar que hoje permite a torturadores como Torres de Melo se arvorarem em patriotas defensores da honra nacional. Mas pior que ele, pau mandado, na junção de grandes empresas, latifúndio, banqueiros e boa parte das nossas forças armadas, transformados em uma realidade de espetáculo, alienar o cidadão comum, as classes médias (come arroz e feijão e arrota maionese e está sempre pronta a dizer sim senhor), impedir que o movimento popular ganhe força, criminalizando-o (a recente CPI do MST não encontrou nenhuma irregularidade no uso de financiamentos para agricultores e a GLOBO sequer tocou no assunto), enfim, uma espécie de FANTÁSTICO SHOW DA VIDA, onde o principal problema do Brasil é o goleiro do Flamengo, Bruno.
Não se trata só de abrir os baús da ditadura. Mostrar a face real dos governos militares. Mas colocar a nu também os que hoje se escondem sob o manto da democracia e conspiram para que sejamos apenas um sonho emasculado em colônia do capitalismo selvagem dos norte-americanos e tudo o que representam.
Gente padrão Jarbas Vasconcelos, Roberto Freire, Alberto Goldman, etc, etc.
Aviões militares fabricados por Israel estão, dois deles, na região de Santa Cruz do Sul, com presença de técnicos de Israel, fazendo demonstrações de vôos não tripulados e podem vir a se incorporar a FAB.
São vinte toneladas de equipamentos no aeroporto Luís Beck da Silva. São dois “HERMES 450” fabricados pela empresa israelense ELBIT SYSTEMS e perto de quarenta homens acompanham os exercícios da Base Aérea de Santa Maria, entre eles representantes da empresa fabricante e seus credenciados no Brasil, a AEROELETRÔNICA.
Esses aviões são usados no Oriente Médio para monitorar o povo palestino, despejar bombas, monitorar o sul do Líbano e a eventualidade de uso deles pelo Brasil implica em dependência tecnológica – não há transferência de tecnologia para o Brasil -, naquilo que somos capazes de fazer.
Segundo o tenente coronel Paulo Ricardo Laux, gerente do grupo de trabalho os aviões vão se exibir até o dia vinte de agosto.
Por coincidência ou não, a grande colônia palestina no Brasil está naquela região, no Sul do País. Onde Bush queria colocar uma base para controlar o “terrorismo”. E também o Aquífero Guarani, a quinta maior reserva de água subterrânea do mundo.
É hora de encarar o desafio de expor as histórias secretas que são, na verdade, as histórias reais dos que controlam o Brasil e querem-no colônia de interesses estrangeiros. E de enfrentar o desafio da Comunicação. Romper a barreira imposta pela grande mídia corrupta, venal e dominada igualmente por esses mesmos grupos.
ASSASSINANDO A LINGUA PORTUGUESA II
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Cada dia mais aparecem pessoas que vivem a corrigir o que eles dizem serem
erros de português. Para tal usam argumentos de todas as espécies. Os
argumento...
Há 2 semanas
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