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domingo, 14 de março de 2010

"GAFE"’ seria Lula homenagear Herzl

O blogueiro de José Serra, Ricardo Noblat, noticiou “em primeira mão”, na noite de ontem, a informação de que Lula, em visita a Israel, teria cometido “mais uma gafe” por ter se recusado a depositar flores no túmulo de Théodor Herzl, fundador do movimento sionista, que criou o Estado de Israel. Foi o que bastou para a horda de trolls do tucano invadir a internet com uma versão inexplicável dos fatos, o que requer esclarecimentos.

O Sionismo visou estabelecer o Estado judeu na Palestina, onde havia e continua havendo uma população autóctone. O sonho de Herzl, um judeu húngaro, era o de fazer valer uma espécie de “direito ancestral” do seu povo através de colonização de terras. Os arquivos dos sionistas dizem que eles acreditavam que a população nativa da Palestina, como resultado desta colonização, simplesmente “montaria as suas tendas e fugiria”. E, se resistisse, seria defenestrada e ponto final.

O processo começou aos poucos, quando o primeiro assentamento sionista na Palestina nasceu e um pequeno grupo judáico imigrou para lá em 1882. A força econômica sionista continuou cravando assentamentos na região. O objetivo era fazer uma lenta e progressiva limpeza étnica que expulsaria os palestinos. Uma “limpeza” que dura até hoje.

O escritor anglo-judeu Israel Zangwill, um dos líderes do Sionismo inglês, dizia que a Palestina era “uma terra sem povo para um povo sem terra”, ou seja, para o povo judeu. Os 410.000 palestinos (muçulmanos e cristãos) que viviam ali eram considerados um mero detalhe.

Alguns historiadores entendem que a liderança sionista não quis dizer que não havia pessoas na Palestina, mas que os palestinos não seriam dignos de ser considerados um povo. Os sionistas realmente acreditavam que a região em que fundaram Israel pertencia exclusivamente ao povo judeu por herança histórica e que os que ali viviam seriam intrusos.

Aí vem a azeitona da empada: Theodor Herzl escreveu, em 1895, que a solução seria mandar os palestinos, “sem nem um tostão”, para além das fronteiras da Palestina e que o processo de remoção deveria ser realizado “de forma discreta”. Israel Zangwill reforçou dizendo que “dar um país a um povo sem país” seria “loucura”, e que não se poderia permitir que aquele fosse “um país de dois povos”.

Para os palestinos, os quais Lula irá visitar na viagem que ora empreende, homenagear seu algoz seria um insulto. Como homenagear o artífice do sofrimento desse povo e depois visitá-lo? Espero, pois, que o presidente não ceda às pressões e se atenha a contatos diplomáticos com os israelenses. Gafe ele cometeria se tivesse homenageado o carrasco do povo palestino.



Escrito por Eduardo Guimarães

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